O atual e o virtual aos olhos de Deleuze

O filósofo francês Gilles Deleuze relata alguns contornos conceituais sobre o que se trata o atual e virtual. O atual podemos entender por algo empírico, extenso, pela proporção do consciente, da linguagem e das experiências vividas. Entretanto o virtual, mostra o ideal (mas real), o intensivo, o campo especulativo das diferenças e singularidades, a proporção do inconsciente, pré-linguística, problemática, pré-sensível.

"O grande e delicado desafio consiste em pensar como se dão as relações entre atual e virtual, relações que precisariam driblar toda forma de representação, de categorização, de cisão, de transcendência, de fundação. Deleuze vai propor que, entre o atual e o virtual, há de fato uma relação de imanência, de pressuposição recíproca, reversibilidade contínua, co-existência, ainda que, de direito, haja uma anterioridade lógica e ontológica do primeiro em relação ao segundo.

A metodologia de Deleuze em vários livros é tentar determinar o que se passa entre as duas dimensões, movimento que se realiza segundo um duplo percurso, um duplo sentido, golpe de pensamento que precisa se dar sem mediações, sem categorizações, em velocidade infinita: do atual ao virtual e do virtual ao atual. Bergsoniano, Deleuze valoriza um modo singular de intuição.

A anomalia metafísica apresentada por Deleuze implica que o deslocamento entre as duas dimensões ocorre necessariamente por disjunção, divergência, heterogênese, devir-outro. Assim, ainda que sumariamente, diremos que sair de um atual e mergulhar na direção de seu virtual (virtualizar) é dissolvê-lo no denso e múltiplo conjunto de forças a partir do qual ele emerge, e de modo que o retorno (atualizar) só pode ser feito em nova estrada: reencontrar o ponto de partida é, em suma, não mais encontrá-lo, mas encontrar um outro, pois que modificado, transformado pelas novidades e aspectos que há pouco vieram à tona.

De fato, a pesquisa de Deleuze quer afirmar a co-presença entre a consciência atual e seu outro, seu contrário, sua diferença, outra coisa que não é ela, um inconsciente virtual. Porém, de direito, podemos observar que Deleuze dá atenção ao problema da gênese, da criação, da individualização, a atualização enfim, considerada como uma das partes de todo objeto, aquela que converte, por divergência, o virtual em atual: ´A filosofia de Deleuze é ontogênese, na medida em que a gênese é a atividade da diferença em si mesma."


Fonte: Alessandro Sales – Cardeno 3 – Diário do Nordeste
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/o-atual-e-o-virtual-1.584509 

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