A mulher e o espaço público

Há alguns dias viralizou nas redes sociais dois casos de assedio sexual e violência contra a mulher. Em agosto a escritora Clara Averbuck foi abusada sexualmente por um motorista do aplicativo Uber enquanto voltava de uma festa e publicou seu relato em uma rede social, mas com a viralização da postagem veio comentários machistas e questionamentos sobre a veracidade da história. Porque quando uma mulher sofre assedio sexual a primeira coisa que as pessoas perguntem é se ela não estava fantasiando aquilo ou ficam buscando encontrar o motivo na vitima acusando usando desculpas como a de que mulher não pode andar sozinha num domingo a noite e nem com roupa curta. A escritora optou por não prestar boletim de ocorrência por saber como casos de violência sexual contra mulher é tratado de forma hostil pelo poder público. 

Poucos dias depois Diego Ferreira Novaes, 27 anos, ejaculou no pescoço de uma mulher dentro do coletivo na avenida paulista em um horário de movimento e com várias testemunhas, ele foi preso em flagrante e solto poucas horas depois, porque segundo o juiz não houve nenhum constrangimento. Diego possui várias passagens pela policia por estupro, mas mesmo assim foi solto e pouco tempo depois já abusou sexualmente de outra mulher. 



O que eu quis contar com esses dois casos? Que não adiante ser de dia ou a noite, nem a roupa de veste, se você está só ou não porque a partir do momento que você nasce e é uma mulher você está todos os dias expostas a se tornar mais uma estatística. A cultura do estupro é a maior causa de tudo isso porque homens crescem acreditando ter poder sobre o corpo da mulher, que seus desejos sexuais são incontroláveis,  que o talvez de uma mulher pode ser um sim se você insistir muito. A sociedade tem a cultura do estupro entranhada em nossas vidas por acreditar que a mulher para não sofrer assedio deveria estar trancada dentro de casa, o que na verdade é uma grande mentira já que na maioria das vezes a violência sexual ocorre com tios, pais, padastros. 

As mulheres são as que mais utilizam transporte publico, que mais se deslocam e que mais sofrem assedio sexual nesses espaços devido a  mobilidade do cuidado porque mulheres tem sua existência atrelada ao cuidado e se deslocam para levar os pais nos médicos, filhos na escola, fazer supermercado e esse tipo de situação pode ser evitada através de um investimento pesado em mobilidade urbana planejada para mulher investido em segurança, qualidade, criar possibilidades de descer em locais mais próximos de casa e não criar vagão rosa no metrô onde segregam mulheres nos incontroláveis órgão genitais de homens. 

Não é mimimi ou coisa do passado porque ainda em 2017 mulheres andam com medo de encostar em qualquer pessoa no ônibus,  em 2017 mulheres ainda não são consideradas seres públicos, em 2017 mulheres são estupradas em carros que elas pagam para voltar em segurança, 2017 mulheres tendo que andar em vagão separado para não ser assediada. Isso é uma realidade que vivemos e a culpa não está na mulher, a culpa está no estado que quer economizar dinheiro e não assume que planejamento urbano passa pela discussão de gênero, raça e classe. 


                                                                                        Vitória Régia Januario

Texto inspirado em: carta capital

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