O cara mais esperto do Facebook


A internet é plataforma de manifestações, revoluções e ,principalmente, um local de externar pensamentos desde os mais utópicos aos mais simples. Exemplo disso é a história de Abud Said, um ferreiro que vivia na província de Aleppo, na Síria, em uma pequena casa, com a mãe e muitos irmãos, que usou seu Facebook como ponte para sua “revolução pessoal” em meio a Guerra Civil que afetava seu país em 2011. Abud Said escreve sobre seu cotidiano e apresenta suas poesia para o mundo desde 2009. O fato chamou a atenção de alguns escritores e Said transformou suas postagens no livro "O cara mais esperto do Facebook".

Ao falar com humor negro sobre seu cotidiano, sua mãe, a dependência do cigarro, dúvidas da vida e mesmo sobre a situação de seu país, Said ultrapassou barreiras da língua e também fronteiras. O escritor se tornou uma espécie de “porta-voz da guerra”, mesmo sem querer. Suas poesias chegam em todas as partes do mundo mostrando a força da internet e que a arte pode existir e resistir apesar de estar inserida em um contexto de caos, como a Síria


A literatura produzida na internet e nas mídias sociais é cada vez mais frequente. Em Said, porém, mais do que um simples meio, o Facebook é um tema recorrente em seus textos, que falam também da guerra, do amor, da solidão e da injustiça. Porém ele não se torna um escritor idealista ou politicamente correto,, tão pouco um herói literário.



“O jornalismo, as organizações de direitos humanos, o conselho da ONU, os escritores, todos eles estão fazendo um jogo sujo. Eu não gostaria de participar desse jogo. O Estado Islâmico é um assunto muito importante, não quero agora falar (…) Não tenho medo, mas não quero participar desse jogo sujo. Todo mundo parece que está participando sob bandeiras de mídia livre, de direitos humanos, não existe mídia livre, tem gente ganhando dinheiro com isso.” ( Abud Said, para o G1 em 2016).

Abud Said está mais para anti-herói. Uma espécie de estrategista contemporâneo do mundo virtual, que não poupa nada nem ninguém, mas que, a par de toda sua rebeldia e sarcasmo, possui um lirismo. Ele vai contra uma suposta demanda social onde o contraditório é ilegal, mesmo sendo uma realidade, no qual torna-se uma forma de experimentar a liberdade.


“Sou egoísta, não quero ser a voz da Síria. Juro por Deus que não há sociedade mais doente que a culta e intelectual e os que trabalham com direitos humanos. Quero viver minha vida“. ( Abud Said, para a Folha de São Paulo em 2016).

Abud Said mostrou sua vida na Síria para o mundo, mas parece que não se sente muito à vontade para falar abertamente sobre a Guerra em si. Talvez por pensar que seu país é muito maior do que suas dificuldades. O que se sabe é que, Abud Said deu para o mundo uma oportunidade de conhecer sua história e como a Síria sobrevive em meio a destruição, através da arte. Isso só foi possível pelo advento da internet.

Por Luã Diógenes e Clara Studart


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