A embriaguês do progresso

"Nós estamos com enorme pressa em construir um telégrafo magnético do Maine para o Texas; mas pode ser que o Maine e o Texas nada tenham de importante a comunicar."

Assim falou
Henry Thoreau, escritor, pesquisador e filósofo americano, sobre o avanço da tecnologia em meados do século 19. Um forte crítico da ideia de desenvolvimento que se tinha na época (e talvez ainda se tenha ainda hoje), Thoreau se preocupava com sua substância: estaria a humanidade no caminho da iluminação ou apenas deslumbrados com a descoberta do que podem fazer, progredindo por progredir, numa onda de progresso desmedido? A empolgação com seus novos poderes poderia estar cegando a todos, numa espécie de "embriaguez de sucesso"?

Eu diria que sim. E que não.  Novas tecnologias podem unir a humanidade na mesma medida em que podem separá-la, depende de quem a usa e como. O fator humano sempre estará presente, prevalecendo sobre a tecnologia. O próprio conceito de cibernética proposto por Norbert Weiner já dizia isso: a comunicação entre o homem e a máquina e seu controle. Einstein não tinha a bomba atômica em mente enquanto prosseguia em seus estudos, mas ela foi criada a partir deles mesmo assim. Os militares, quando desenvolveram a tecnologia analógica do visor dos radares, nunca pensaram que um dia isso poderia acabar presente nas casas de famílias do mundo inteiro na forma de um vídeo game, e aí estão eles, geração após geração.

Ao meu ver, não há necessidade de sermos fatalistas. Thoreau também fala: "Nós estamos com enorme pressa em construir um telégrafo magnético do Maine para o Texas, mas pode ser que o Maine e o Texas nada tenham de importante a comunicar.". Pode ser apenas um deslumbramento com a tecnologia recém-descoberta? Pode. Mas sem dúvida, ligar um estado a outro, encurtando distâncias, nunca será uma coisa ruim. O autor se preocupa não com o processo, mas com a motivação dele.  Se a motivação por trás dele não é correta, como poderia ser uma força para o bem? Talvez ele seja um pouco "trágico" demais em suas críticas, mas isso não as torna infundadas.

Ainda temos muito o que evoluir, aprender e avançar, para um dia, quem sabe, conseguirmos finalmente tornar o mundo melhor, mais seguro e mais unido. E até que este dia chegue, muitas outras descobertas serão feitas e tecnologias serão criadas. Não nos esqueçamos do principal: somos humanos, e como tal, podemos (e devemos) cuidar do nosso semelhante tanto quanto cuidamos de nós mesmos. Não deixemos nossa sanha pela descoberta, algo tão intrinsecamente humano, nos desumanizar.

Como disse o professor e escritor inglês Cedric Price: "Tecnologia é a resposta, mas qual é a pergunta?"


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